As deficiências do Brasil nos setores de infraestrutura e educação estão entre os principais "desafios" que o país precisa enfrentar para crescer de maneira sustentável, avalia um relatório da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) divulgado nesta terça-feira.
O estudo reuniu dados da própria consultoria, entrevistas com analistas e especialistas e um levantamento feito entre abril e maio junto a executivos de 536 companhias em 18 países.
A EIU identificou quatro áreas nas quais o país precisa fazer progressos se quiser realizar o seu potencial econômico: educação, infraestrutura, inovação e reconhecimento internacional de marcas.
"Se estes desafios arraigados puderem ser solucionados na próxima década, a economia poderia sustentar taxas de crescimento acima de 5% ao ano por um longo período", disse a especialista da EIU para as Américas, Justine Thody.
"Para um país de renda média com uma população perto de 200 milhões de habitantes, seria um dos mercados mais atraentes do mundo."
Percepções e realizações
O relatório, encomendado pelo banco HSBC, procurou avaliar "como os investidores veem o Brasil e como o Brasil vê o mundo".
Quase metade dos entrevistados (49%) disse perceber o Brasil como um "mercado jovem e crescente à altura da China, Índia ou Rússia" e dois em cada cinco (40%) disseram ver o país também como "um ator emergente na cena mundial".
Entretanto, 31% associaram a economia brasileira a um "mercado com grande potencial, mas contido por um ambiente pobre de negócios", enquanto 13% afirmaram que o Brasil é "principalmente conhecido pelos extremos de riqueza e pobreza".
A EIU estima que o país crescerá 7,8% neste ano e 4,5% no ano que vem, chegando a 2014 com um PIB per capita de US$ 13,8 mil.
Entretanto, para sustentar um crescimento em torno de 5% em níveis prolongados, o país precisa resolver gargalos pelo menos nos quatro campos citados no relatório, segundo a consultoria e os entrevistados ouvidos na pesquisa.
Desafios
Questionados sobre os principais obstáculos operacionais para seus negócios no Brasil, por exemplo, praticamente metade dos respondentes (49%) citou os baixos padrões - ou os altos preços, daí o termo "custo Brasil" - da infraestrutura do país.
O estudo aponta que as atividades de frete ainda dependem de transportes rodoviários custosos, a malha ferroviária é pequena, os portos e aeroportos estão congestionados e o potencial hidroviário permanece inexplorado.
Entre outras respostas frequentes, os pesquisadores da EIU também registraram a preocupação dos empresários com o não-cumprimento de contratos, a corrupção e a fraca governança corporativa (34% das menções).
No quesito educacional, o relatório apontou a falta de mão-de-obra qualificada para preencher vagas cruciais nas empresas. Entre as companhias americanas, por exemplo, esse é considerado o principal desafio a ser enfrentado pelo Brasil (na opinião de 47% das empresas).
Para a EIU, a saída passa, além da melhora no currículo educacional e o treinamento dos professores, por um redirecionamento dos recursos públicos do ensino universitário para a escola secundária.
"Uma educação pobre e poucos recursos na educação secundária significam que os alunos que terminam a escola estão entre os menos educados do mundo", afirma a EIU.
Inovação e reconhecimento
Por fim, o país enfrenta também desafios relativos à inovação e ao reconhecimento de seus produtos no exterior. Mais da metade dos entrevistados no Brasil (57%) disse não ter estruturas voltadas para pesquisa e desenvolvimento, ou sequer planos de criar tais estruturas.
O relatório aponta que é necessária uma maior aproximação entre empresas e universidades para gerar conhecimento e inovação - a exemplo do que já ocorre nas áreas ambiental e agrícola, nas quais o Brasil é um exportador de tecnologia.
Na questão da percepção da "marca Brasil" - essencial para garantir uma boa acolhida aos produtos brasileiros nos mercados destinos -, o relatório indicou que as companhias verde-amarelas "ainda sofrem do pouco reconhecimento no exterior".
"À parte algumas companhias de alto perfil, as marcas brasileiras ainda carecem do reconhecimento global de suas concorrentes ocidentais", afirma o estudo.
Nada menos que 84% dos entrevistados disseram que as marcas brasileiras não são reconhecidas ou apreciadas no exterior. Nos EUA, por exemplo, apenas 3% das empresas crêem que as marcas do Brasil alcançam este grau de distinção.
Já na China, as marcas brasileiras são bem-recebidas por 24% dos empresários.